Advogado de Bruno diz que vai negar que Eliza foi morta
Fantástico promoveu debate entre defensor de atleta e acusação.
Julgamento de Bruno está marcado para começar em 19 de novembro.
O advogado do goleiro Bruno Fernandes, Rui Pimenta, disse, em entrevista exibida neste domingo (11) no
Fantástico,
que pretende negar, durante julgamento, que Eliza Samudio foi morta.
Bruno e mais quatro vão ser julgados em Contagem, na Região
Metropolitana de Belo Horizonte, a partir do dia 19 de novembro, pelo
desaparecimento e morte de Eliza Samudio. Em março deste ano, Pimenta
afirmou ao
G1 que a defesa iria admitir a morte de Eliza, porém iria sustentar que Bruno não teria sido o mandante.
Imagens obtidas pelo Fantástico mostram parte dos depoimentos dos réus no processo do caso Eliza Samudio.
Veja reportagem completa no vídeo acima.
Os interrogatórios, conduzidos pela juíza Marixa Fabiane Rodrigues,
somados, têm mais de 30 horas. Bruno esteve perante a Justiça em
novembro de 2010.
Durante o depoimento, a juíza questiona o goleiro sobre o filho dele
com Eliza. “Foi você que salvou a vida do Bruninho?”, pergunta a
magistrada. “Excelência, em momento algum a vida dele esteve em perigo,
ou da Eliza. Eles estavam sob meus cuidados”, respondeu o atleta.
Ao decidir que os acusados deveriam ir a júri popular, a juíza do caso
escreveu: "Embora, até a presente data, não tenha sido encontrado o
corpo de Eliza Samudio, a materialidade do homicídio é suficientemente
indicada pelos elementos de prova que constam no processo."
O Fantástico antecipou o debate que deve acontecer entre dois advogados
muito conhecidos em Minas Gerais. Eles vão ficar frente a frente
durante o julgamento de Bruno. Um vai fazer a acusação, José Arteiro
Cavalcante, o outro, a defesa, Rui Pimenta. As opiniões se divergem.
Enquanto Arteiro considera a morte de Eliza, Rui Pimenta, agora com nova
tese, diz que Eliza não foi morta.
“Nasceu uma história de homicídio. É ficção”, afirmou Pimenta. Arteiro
rebateu, dizendo que “ficção não cabe dentro do processo. A dona Sônia,
mãe de Eliza, está cobrando, doutor Rui, os ossos da moça. Cadê os ossos
da moça?”, questiona.
“Não houve esse crime. Esse crime vai ser todo reestruturado, analisado
no Tribunal do Júri”, disse Pimenta. “Dizer que ele não mandou matar é
brincadeira. Por que o senhor não manda seu cliente contar o caso?
Explique por que ele queria matar a criança”, cobrou Arteiro.
“Nesses fatos todos, pode estar certo que uma grande injustiça já foi
perpretada” defende Pimenta. Ele ainda volta a falar sobre o retorno de
Bruno ao futebol, e o sonho de defender a seleção brasileira. “A final
vai ser no Maracanã, Brasil e Argentina”, disse.
O advogado de Bruno, Rui Pimenta, disse que nem assassinato houve. “Não
se encontrou fio de cabelo, não se encontrou nada que pudesse presumir,
pelo menos, ter ali, naquele palco, havido um homicídio”, afirmou.
José Arteiro rebateu o defensor do atleta. “O certo é que ela está
desaparecida e ela morreu. Eu quero lembrar o doutor Rui que não é
necessário ter o cadáver”.
O advogado que é assistente da acusação ainda completou, dizendo a
Pimenta, que “você me dá a oportunidade de responder por que não acharam
nenhum fio de cabelo: porque o Bola é matador profissional” disse
Arteiro. Rui Pimenta defende. “Me dá um fio de cabelo, um pingo de
sangue, um esmalte... Profissional, profissional... Uma coisa qualquer
pra presumir que ela estivesse naquele local, naquele dia”.
Nesta sexta-feira (9), a defesa lançou mais uma versão para o caso.
Apresentou uma carta, dizendo que ela foi escrita por um ex-companheiro
da mãe de Bruno. Esse homem estaria preso em Governador Valadares, no
Leste de Minas.
No texto, o presidiário afirma que, em março de 2010, ou seja, três
meses antes de ela ser supostamente sequestrada, teria ajudado Eliza a
obter um passaporte falso; e que, em maio de 2010, ela teria conseguido
um documento de permanência, também falso, num país vizinho. Segundo o
advogado de Bruno, o presidiário depois contou, pessoalmente, a um outro
defensor do goleiro, que esse país seria a Bolívia; que Eliza não teria
morrido e sim viajado de lá para a Europa, com nome falso. “Não existe a
comprovação da morte. E se ela não morreu, está viva” afirmou Rui
Pimenta.
A reportagem questiona o defensor de Bruno. “Então, o senhor está
dizendo que Eliza Samudio está viva?”. Segundo Rui Pimenta, “ela queria
uma ascensão pornográfica. Existe uma teoria de que está num país do
Leste europeu. E tá fazendo a vida dela lá”.
O defensor de Eliza discorda da tese e se posiciona. “Se ele for
apresentar isso no júri, vai ser derrotado fragorosamente. Deixa eu
explicar pra ele. Quem mandou matar foi o goleiro Bruno. Mandou um
covarde que se chama Bola. O Bruno diz que deu R$ 30 mil a essa mulher.
Esses R$ 30 mil eram pro Bola”.
Na frente da juíza do caso, Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, chegou
a chorar... Criticou a investigação da polícia e negou as acusações. A
juíza perguntou: “o senhor é inocente?”. Bola respondeu “sim, senhora”.
O advogado de Bola, Fernando Magalhães, afirmou que seu cliente não
está envolvido no caso. “Da vida pessoal e da participação de Marcos
Aparecido, podemos resumir numa única palavra: não tem nenhuma ligação
com esse crime”, disse.
Rui Pimenta falou sobre a tese da defesa e sobre pontos que vai
destacar a inocência de Bruno. “Uma que não houve o homicídio. E a
segunda, que se houve, mesmo sem prova, o Bruno não foi responsável,
nunca quis, nunca desejou, nunca pensou numa coisa dessas”.
Para José Arteiro, “o Bruno cometeu esse crime covarde, achando que era
Deus. Tem muitas provas nos autos. Não adianta o doutor Rui querer
correr da verdade”. Arteiro, o advogado da família de Eliza, já
participou de cerca de 2,6 mil júris. Pimenta esteve em mais de mil.
Rui Pimenta revela o grande sonho do ex-goleiro do flamengo, que hoje
tem 27 anos: estar na final da Copa do Mundo de 2014, no Maracanã,
contra a Argentina. “Vai terminar 0 a 0. Quem vai bater o penalti? O
maior jogador do mundo, Lionel Messi. E quem vai defender e dar o titulo
para 200 milhões de brasileiros? Bruno. Esse é o grande sonho dele”,
afirmou.
É piada, diz a acusação. “O Bruno não vai pra Copa, não. Só se for pra de 3000! Porque nessa ele não vai!”, disse Arteiro.
O bebê
E o que aconteceu com o bebê, depois do suposto assassinato de Eliza?
De acordo com a acusação, Macarrão e o menor voltaram para o sítio com a
criança e conversaram com Bruno. Sérgio Rosa Sales, primo de Bruno,
disse ter visto a cena.
Ao ser questionado com pela juíza, ele apresentou a versão. “Quanto
tempo o Bruno ficou conversando com os meninos?”, perguntou a
magistrada. Sérgio respondeu: “cerca de uns 10 minutinhos, mais ou
menos.” A juíza faz outra pergunta: “que explicação deu pra ter voltado
pro sítio só com o bebê da Eliza?” E Sérgio respondeu: “pra mim,
nenhuma”.
Segundo o Ministério Público, Bruno, Macarrão, o menor e Sérgio
chegaram a queimar objetos de Eliza e do bebê, na tentativa de apagar
vestígios do crime. A acusação diz que a criança ficou dez dias com
Dayanne, a ex-mulher do goleiro, e depois foi entregue para pelo menos
outras cinco pessoas, conhecidas do casal.
Quinze dias depois do suposto assassinato, a polícia encontrou o bebê
de Eliza, com uma dessas pessoas, numa casa em Ribeirão das Neves,
também na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
O Fantástico foi a Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, para saber da
expectativa de quem está do outro lado dessa história. É neste bairro da
área rural que vive dona Sônia, mãe de Eliza Samudio e o menino que
teria sido o pivô do crime. Aos dois anos e oito meses, Bruninho - filho
do ex-goleiro com Eliza -, é uma criança extrovertida e adora jogar
futebol.
Tirado da mãe com poucos meses de vida ele só conhece Eliza por fotos. A
avó que hoje cuida de Bruninho relembra. “Desde pequena, 14 15, 16, 19
anos que ela fala: ‘mãe um dia eu vou ter o meu filho e no dia em que eu
tiver o meu filho, a senhora pode ter certeza que eu nunca vou
abandonar o meu filho’”, contou Sônia.
Dona Sônia disse que não acredita na possibilidade da filha estar viva,
tese que chegou a ser defendida pela defesa dos réus. “Ela não tá viva.
Ela jamais deixaria o filho dela, tão pequenininho, indefeso e
precisando do aconchego e dos braços dela. Eu não tenho ódio do Bruno,
não tenho, não tenho ódio, não guardo mágoa, tenho dor, dor porque eu
sei tanto sofrimento que ele causou para a minha filha. Tanto de
sofrimento que este meu neto ainda tem pela vida dele, sabe? Não quero
que ele tenha este sentimento de ódio, de revolta pelo pai dele, eu não
quero isso!”, Concluiu.
Questionada se o julgamento vai encerrar o sofrimento, dona Sônia
negou. “Não encerra o meu sofrimento”. Ela ainda destaca outro desejo e
disse que vai começar uma nova batalha. “uma outra batalha. A busca
pelos restos mortais da minha filha”, concluiu.
Parentes em Belo Horizonte
A família de Bruno foi encontrada em uma casa, num bairro pobre de Belo
Horizonte. Um presente do ex-goleiro para a avó, dona Stela, com 81
anos de idade. A avó, que criou Bruno como um filho, não irá ao
julgamento. Diz que tem medo de não conseguir controlar a emoção.
“Porque a gente fica assim, né, com medo, do que dá, né? Talvez ele
pode ser condenado. Talvez, absolvido, a gente não sabe”, disse a avó.
Sobre toda essa história ela se posiciona. “Eu acho que ele não tinha
coragem não. De fazer isso que eles estão falando, né? Que ele matou,
fez... Eu acho que não”. Para os parentes, Bruno foi envolvido nessa
trama misteriosa.
Uma tia do jogador, Creusa Aparecida das Dores de Souza, também
acredita na inocência de Bruno. “Eu sinto, e fico numa tristeza danada
dele ter deixado tudo cair, mas não por ele, mas sim pelas amizades
também. Na hora que ele tá lá no buraco, quem vai ver ele hoje?”, disse.
A tia também falou sobre o que teria destruído o sonho de Bruno. “A
bola. Ele falou ‘tia, meu sonho, eu cheguei até onde eu tô, mas desceu
tudo de novo porque eu não soube dar valor’.
Já um primo de Bruno disse sentir falta do atleta. “A saudade é muito
grande. Eu mesmo já chorei demais por causa disso. Já chorei muito”. O
primo Cláudio está convencido de que o sofrimento tem data pra acabar: o
dia em que Bruno será inocentado. “Abrir aquele portão e falar assim:
"seja benvindo de novo". É o que eu mais quero mesmo”, afirmou.
O crime
Nossas equipes também obtiveram a íntegra do processo. Mais de 10 mil
páginas. O Fantástico fez uma reconstituição sobre o que aconteceu com
Eliza, segundo as versões da acusação e da defesa.
Em maio de 2009, Eliza Samudio - então com 24 anos - ficou grávida de
Bruno. Ela já tinha participado de filmes pornográficos e estava
desempregada. Segundo a acusação, o goleiro ordenou que Eliza abortasse.
Nessa época, Eliza acusou Bruno de agredi-la e fazer ameaças.
Recentemente, ele foi condenado, por esses crimes, a um ano e dois
meses. Como está preso há mais de dois anos, essa pena, para a Justiça,
já está cumprida.
Na frente da juíza, Bruno se defendeu: “Em momento algum, eu cheguei
pra ela e falei: "olha, Eliza, você tem que abortar". Bruninho - o filho
de Eliza e de Bruno - nasceu em fevereiro de 2010. A mãe foi à justiça
pedir o reconhecimento da paternidade e o pagamento de pensão
alimentícia.
Segundo a acusação, a data fundamental nessa história é 4 de junho de
2010. Nesse dia - segundo o Ministério Público - Bruno mandou que Eliza e
o filho fossem sequestrados, no Rio de Janeiro. As investigações
mostram que esse sequestro foi cometido por um primo do goleiro, então
menor de idade; e Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão.
No interrogatório, Bruno disse acreditar na inocência de Macarrão. E
chegou a chorar quando falou do homem que era o seu braço direito. “Ele
falava: ‘Bruno, a partir de hoje você vai jogar futebol". Quando tinha
algum problema, ele mesmo que resolvia”, contou o atleta.
À polícia, o menor disse que, logo no início do sequestro, ainda dentro
de uma Land Rover de Bruno, deu três coronhadas na cabeça de Eliza.
Exames de DNA revelaram que havia sangue dela no piso e no banco do
passageiro. Também foi descoberto sangue do menor no carro. Na
sequência, Eliza e a criança foram deixadas na casa de Bruno, no Recreio
dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro. O goleiro estava concentrado num
hotel para a próxima partida do Flamengo. É nesse momento que aparece
Fernanda Gomes de Castro, uma outra namorada de Bruno.
À Justiça, ela disse que foi chamada por Macarrão para cuidar do bebê. E
que não viu nenhum machucado em Eliza Samudio. No depoimento de
Fernanda, há um ponto importante. Eliza teria dito a Fernanda que
Macarrão tinha oferecido um apartamento a ela, em Belo Horizonte, e que,
por isso, Eliza viajaria no dia seguinte pra Minas. “Ela ia passar a
semana pra procurar o apartamento junto com o Macarrão e com o Bruno”,
afirmou. Fernanda também falou que Eliza estava cheia de planos. “O
Macarrão perguntando se ela pretendia ainda fazer esse tipo de filme que
ela tinha feito. Ela falando que não, que ela queria mudar de vida e
que o filho dela era a razão da vida dela”, disse.
No dia 5 de junho, o sequestro completa um dia. Depois de uma derrota
de 2 a 1 para o Goiás, no Maracanã, pelo Campeonato Brasileiro, Bruno
voltou pra casa, no Recreio dos Bandeirantes, e se encontrou com
Eliza.“Dizia ela que tava com muita dor de cabeça. Mas, sangrameto na
cabeça, eu não vi”, disse Bruno à juíza.
Segundo a acusação, a proposta do apartamento foi uma armadilha pra que
Eliza viajasse sem medo para Minas. No interrogatório, Bruno não
mencionou esse suposto imóvel. Contou outra história: que ela pediu R$
50 mil para pagar dívidas e que ele concordou em dar R$ 30 mil. “Eu
falei, vamos fazer o seguinte: ‘você fica aqui no Rio de Janeiro, eu te
deposito esse dinheiro e fica tudo certo”, afirmou o goleiro.
A versão de Bruno é que ele estava com viagem marcada para Minas e
Eliza insistiu em ir junto. “Ela falou pra mim: ‘não, eu não confio em
você. Eu viajo e pego dinheiro’. Foi onde ela decidiu vir a Belo
Horizonte, não eu a convidei pra vir a Belo Horizonte”, disse.
Na mesma noite de 5 de junho, Bruno e a namorada Fernanda viajaram pra
Minas num carro de luxo: uma BMW emprestada por um amigo do goleiro. Na
Land Rover, foram Eliza; o filho dela, então com 4 meses; Macarrão e o
menor de idade, primo de Bruno. No dia seguinte, todos chegaram ao sítio
do goleiro, num condomínio em Esmeraldas, na Região Metropolitana de
Belo Horizonte.
O Ministério Público diz que Eliza e o filho foram mantidos reféns,
ficando parte do tempo trancados num quarto. E que havia um revezamento
na vigilância entre o goleiro Bruno, Macarrão, Fernanda, o menor de
idade e Sérgio Rosa Salles - outro primo de Bruno, que também era réu no
processo, mas foi assassinado em agosto de 2012.
Diante da juíza, Bruno negou o sequestro. “Eu nunca vi cárcere privado
com a porta aberta, a mulher andando pra lá, andando pra cá. Ela ficou
super à vontade como qualquer outra pessoa ficaria”, afirmou.
Os outros acusados têm versões parecidas sobre o tempo que eliza passou
no sítio. Por exemplo: Dayanne de Souza, a ex- mulher de Bruno, disse
ter ido ao local no dia 9 de junho e conversado normalmente com Eliza.
“Ela respondeu que tinha vindo resolver uns problemas com o Bruno”. A
juíza questionou Dayanne se “ela fez algum comentário se tinha sido
agredida nesse dia?”. E ex-mulher do goleiro respondeu: “Não. Eu cheguei
a perguntar pra ela e ela disse que não apanhou nem nada. Ela tinha
dito que tinha machucado o dedo na porta”.
Bruno alegou que no dia 9 (de junho) deu os R$ 30 mil pra Eliza. “Tudo
em nota de R$ 50 e R$ 100, excelência”, contou. Eliza teria feito outro
pedido: “explicou que tinha que viajar a São Paulo pra arcar com algumas
despesas. Ela me perguntou se eu ficaria com o Bruninho por sete dias.
Eu falei: eu fico sete dias”, afirmou Bruno em depoimento.
Segundo o Ministério Público e a polícia, no dia 10 de junho de 2010,
uma quinta-feira, Eliza foi morta, depois de seis dias de sequestro.
Bruno nega. No depoimento, contou que, nesse dia, Eliza iria começar a
viagem pra São Paulo. “Veio até mim, se despediu normalmente. O Macarrão
deu uma carona pra ela, deixou ela no ponto de táxi”, afirmou. A juíza
quetiona se “o Bruninho foi com eles?” E Bruno responde: “não, ficou
comigo”.
Neste ponto, há uma contradição. Sérgio Rosa Salles, o primo de Bruno,
disse que Eliza levou o bebê. “Eu sei que saiu Eliza e o neném. Ficou eu
e o Bruno no sítio”, afirmou a Justiça. Imagens mostram o carro saindo
do condomínio onde fica o sítio. A gravação não mostra, mas, de acordo
com a acusação, lá dentro, estão quatro pessoas: Macarrão, o primo menor
de Bruno, além de Eliza e o bebê.
À polícia, o menor de idade contou que todos foram não para um ponto de
táxi, como disse Bruno, mas sim para a casa do ex-policial Marcos
Aparecido dos Santos, o Bola. A quebra do sigilo telefônico revelou,
nesse dia, cinco ligações entre Bola e Macarrão. O menor relatou que num
dos cômodos da casa - que fica em Vespasiano -, também na Região
Metropolitana de Belo Horizonte - Bola deu uma "gravata" em Eliza e
Macarrão amarrou as mãos dela. Segundo o menor, Macarrão ainda chutou
Eliza e Bola a derrubou no chão, apertando o pescoço dela.
O advogado da família de Eliza defende que morreriam Eliza e o bebê.
“Morreu só Eliza porque alguém se arrependeu de última hora e não quis
matar a criança”, disse.
No depoimento à Justiça, Macarrão preferiu o silêncio: “Não vou
responder, excelência”. Mas, em uma entrevista ao Fantástico, em julho
do ano passado, ele mencionou esse tal ponto de táxi. “Eu a deixei no
ponto de táxi e já arranquei com o carro. Eu estava muito atrasado",
afirmou Macarrão.
O menor, primo de Bruno, voltou atrás nas acusações. Disse que foi
pressionado pelos policiais. Segundo a Corregedoria da Polícia Civil,
foi instaurado inquérito para apurar essas supostas pressões, mas nada
foi comprovado. E a promotoria afirma que nem tudo o que o menor falou
pode ser desconsiderado. Por exemplo: ele contou o que disse ter visto
em relação à esganadura de Eliza.
Entre vários detalhes, cita: "uma mancha bem vermelha no olho,
parecendo até que ia sangrar". Um perito do instituto de criminalística
de Minas analisou o relato e concluiu que "é compatível com as
descrições na literatura para esganadura".
O menor também falou à polícia que Eliza tinha sido esquartejada e que
viu os cachorros de Bola comerem a mão dela. Mas não foi encontrada
nenhuma prova disso. Até hoje, não se sabe o que aconteceu com o corpo.
Nem mesmo se existe um corpo.
Acusados
O menor primo do goleiro Bruno cumpriu medida socioeducativa, e hoje,
já adulto\, não deve mais nada à Justiça. Ele foi incluído no Programa
de Proteção a Testemunhas.
No próximo dia 19, no Fórum de Contagem, está marcado o início do
julgamento de cinco réus. Seriam seis. Mas Sérgio Rosa Sales, também
primo de Bruno, foi assassinado em agosto passado, perto da casa dele,
em Belo Horizonte. Segundo a polícia, ele assediou uma mulher casada e
sofreu retaliação. Dois suspeitos estão presos.
Dayanne vai a júri, acusada de participar do sequestro e cárcere
privado de Bruninho. A ex-mulher de Bruno negou à Justiça a participação
nos crimes. “Você praticou algum desses crimes?”. “Nenhum deles”,
respondeu Dayanne.
Já Fernanda responde por esses crimes e mais o sequestro e cárcere
privado de Eliza. Durante depoimento a Justiça ela negou participação.
“Essa acusação contra a senhora é verdadeira?”, perguntou a juíza. “Não,
senhora”, disse Fernanda. Dayanne e Fernanda esperam o julgamento em
liberdade.
Macarrão, Bola e Bruno estão presos. Pesam contra Macarrão e Bruno as
seguintes acusações: sequestro e cárcere privado de Eliza e Bruninho; e,
junto com o Bola, respondem também pelo homicídio e ocultação de
cadáver de Eliza.
Os cinco réus vão entrar no plenário com escolta, por uma porta, e vão
se sentar juntos, ao lado do espaço reservado para os advogados de
defesa.
Bruno pode ser condenado a 41 anos de cadeia. A defesa garante que - no
julgamento, daqui a uma semana - o goleiro vai manter o que disse no
interrogatório à Justiça. “O senhor está disposto a declarar a verdade
que sabe sobre os fatos?”, questionou a juíza. “Somente a verdade,
excelência”, disse Bruno.